A eleição municipal de 2020 terminou como o pleito com o maior número de vitórias de indígenas. Dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e do Instituto Socioambiental (ISA) apontam que, no primeiro turno, as tribos obtiveram 213 cadeiras nas Câmaras Municipais, 10 prefeituras e 11 postos de vice.
Minas Gerais é o 11º estado com maior população indígena do país, com população de 31.112 indígenas, segundo o Censo do IBGE de 2010. Em 2020, foram registradas 54 candidaturas indígenas no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para concorrer aos cargos de prefeito, vice e vereador. Saíram vitoriosos 11 vereadores, um prefeito e uma vice-prefeita, eleita inclusive pelo Avante: Margarida Maxakali.
Eleita vice-prefeita de Santa Helena de Minas, em 2020 a chapa de Maxakali recebeu 2.399 votos. Agora, ela que já foi vereadora do município, representa cerca de 6 mil pessoas, sendo que na aldeia onde vive são quase 2 mil habitantes. “Minha comunidade me deu muito apoio para que eu me candidatasse a vice-prefeita. Sabemos das dificuldades que temos dentro das aldeias e precisamos nos unir para poder conseguir melhorias para a nossa gente. O povo Maxakali já sofreu muito, mas estamos tendo o apoio da prefeitura e conseguindo atender as demandas”, disse.
“O mais importante nessa participação política é que muitos dos Maxakali das aldeias não falam português, então é importante representá-los para podermos correr atrás de políticas públicas para eles”, conclui Margarida.
Segundo a Apib, as campanhas vitoriosas em 2020 representam aumento de 17% em relação aos cargos conquistados quatro anos antes. Dos vereadores indígenas mineiros, há representantes dos povos Krenak, Maxakali, Pataxó, Xacriabá e Xukuru Kariri. Os números de Minas representam 5,5% das vitórias obtidas pelos índios em todo o país. A liderança do ranking fica com o estado do Amazonas: com 42 vereadores, dois vice-prefeitos e um prefeito de comunidades originárias eleitos, representando 19% do total nacional.
A eleição de 2020 registrou crescimento, também, no número de indígenas participantes. Os mais de 5 mil municípios nacionais abrigaram 2.212 candidatos originários, o que representa crescimento de 27% em comparação a 2016.
Ao longo do último ciclo eleitoral, a Articulação dos Povos Indígenas Brasileiros trabalhou para mostrar, às comunidades, a importância de disputar a eleição. “É nos municípios que se inicia toda a retórica de conflito pelos direitos territoriais. E onde se iniciam, também, as principais violações aos direitos dos povos”, sustenta Dinamam Tuxá, coordenador-executivo da Apib.
Para o missionário Roberto Antônio Liebgott, coordenador da Regional Sul do Conselho Missionário Indigenista (Cimi), os povos originários têm conseguido, gradativamente, aumentar a participação na formulação de políticas públicas voltadas a esses grupos. Ele aponta a Constituição Federal de 1988 como elemento importante, por ter permitido aos indígenas que se manifestassem conforme suas crenças e costumes. “O resultado das eleições de 2020 não é um fato isolado. É decorrência de um processo histórico conduzido pelos povos e suas organizações, em articulação com setores da sociedade e partidos políticos”, explica.
Conheça mais sobre os Maxakali
Nome próprio
Todo povo indígena tem um nome pelo qual é conhecido, e essa denominação é chamada de etnônimo. Maxakali é um exemplo. Entretanto, entre os indígenas, o termo usado é outro: Tikmũ’ũn, a combinação de termos como tihik, que significa homem, e mu’un, que tem o sentido de grupo e inclusão.
Aldeias e municípios
O povo Maxakali vive na região Nordeste de Minas Gerais: nas aldeias de Água Boa, no município de Santa Helena de Minas; em Pradinho e Cachoeira, no município de Bertópolis; em Aldeia Verde, no município de Ladainha, e no distrito de Topázio, em Teófilo Otoni.
Idioma
O português está longe de ser o único idioma falado no território brasileiro. Atualmente, existem cerca de 274 línguas indígenas por aqui. Elas estão distribuídas em famílias linguísticas que constituem o chamado tronco linguístico. No Brasil, são dois: o Tupi e o Macro-Jê. O povo Tikmũ’ũn é falante da língua Maxakali, do tronco linguístico Macro-Jê.